1. |
doze suspiros
16:00
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e da última palavra...
fez-se o último desejo.
sentou e ficou lá,
parada,
prendia a respiração o máximo que suportava.
atingia o limite,
tossia e tentava começar tudo de novo.
aos poucos, foi cansando,
cansando...
forçou,
atingiu o limite, sentiu dores.
os pulmões pareciam inchados, doíam.
prendeu a respiração mais vez, não suportou,
fechou os olhos.
agora somente histórias mais calmas
a voz de hope sandoval e a lembrança distante do último olhar.
havia um tênis pendurado nos fios da energia elétrica e próximo a ele galhos de uma árvore com pouco tempo de vida.
na quadra velha, sempre vazia, água da chuva acumulada. #
ao longe, uma antiga canção de odair josé e alguém provavelmente feliz. #
com ela, a velha estante repleta de filmes dos anos 40, vinis de cantoras negras tristes e livros de virginia wolf. #
sentia falta.
saudade.
sabia que não voltaria. #
então as lembranças vinham aos poucos, imprecisas. #
e as músicas não eram mais suficientes, os comprimidos não surtiam efeito e o tempo passava sempre com maior lentidão… #
sempre lento, lento...
... até parar de passar um dia.
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2. |
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a canção que você fez pra mim tinha algo de melancolia e morbidez.
sonoridade estranha, sentimentos idem e pouca esperança.
da lágrima que correu o lado esquerdo do rosto senti o gosto da dor.
sofri.
de todos os tipos e formas escolhi as mais bizarras.
das mulheres e homens preferi os que haviam perdido.
na primeira manhã o gosto na boca não vinha de mim.
noite dormida cansada que teimava em não acabar.
na segunda manhã, teu desdém cravou fundo no peito qual lâmina afiada. sentimento estranho, esperança idem e pouca sonoridade. lágrima. filete de sangue, olhar endurecido e o eco ao fundo da canção mórbida.
mas amanhã eu sei, será diferente. sei sim: quebrarei o disco da canção, secarei a lágrima, cegarei a lâmina afiada e passarei tudo que perdi pra ti. então, finalmente, conhecerás a minha vida e se arrependerás.
solução nenhuma: bala na cabeça, faca no coração, corda no pescoço, salto alto no asfalto quente. de mim, esperança estranha, sonoridade idem, pouco sentimento.
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3. |
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numa dessas esquinas perdidas o assassino esperava.
o tênis azul com listras brancas apertava.
calça jeans envelhecida, camiseta preta básica tamanho p
e as canções de beth gibbons.
...as canções de beth gibbons.
perto de uma dessas esquinas perdidas a menina caminhava pensando no futuro amor.
o tênis vermelho no tamanho certo,
jeans envelhecido colado no corpo
camiseta branca amélie poulain.
a cidade anoitecia,
a lua vinha aos poucos,
delicada e silenciosa
enquanto a menina caminhava
o assassino, paciente, esperava.
da janela, depois da cortina rasgada e suja, das grades enferrujadas, via fios elétricos com tênis, restos de pipas e esperanças juvenis penduradas e abandonadas. existiam árvores antigas, corroídas por cupim e paredes descascando. nos fins de tarde, quase sempre, podia ver o sol se por. com ele, a noite trazia velhos conhecidos e quase nunca sentimentos felizes. ela olhava pra baixo e agradecia, sempre, às grades enferrujadas por estarem ali nos piores momentos, quando a música ficava mais triste e os amores fortuitos da madrugada teimavam em ir embora. alguns, deixavam bilhetes de adeus, outros nem isso. nela, sobrava o hálito do vinho barato, o corpo maculado, a alma ainda mais dilacerada e as flores que nunca chegariam no café da manhã.
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dronedeus Fortaleza, Brazil
dronedeus é um quarteto fortalezense formado por Lenildo Gomes, Rodrigo Colares, Clauu Aniz e Vitor Colares que mistura spoken word, exprimentalismo eletrônico e triphop.
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